Dr. FRANCISCO ORNIUDO FERNANDES - Médico Infectologista
A noite do dia 19 de abril de
1954 é inesquecível para mim. Estava dormindo em uma rede, no mesmo quarto onde
também dormia a minha irmã, Maria Cândida. O aposento ficava ao lado do
dormitório de nossos pais, separado apenas por uma porta, que ficava sempre
fechada.
De madrugada, fui acordado por
minha irmã que chorava e sacudia o punho e a varanda da rede exclamando que
mamãe estava passando muito mal! Acordei atônito sem saber direito a dimensão o
que estava acontecendo, porque não tinha noção, nem conhecimento da gravidade
do quadro. Era uma criança, tinha apenas sete anos e quatro meses de idade.
Imediatamente fui conduzido para o quarto onde pude presenciar a situação
agonizante de minha genitora, sentada no leito, cansada, e, eliminando pela
boca, grande quantidade de secreção espumosa avermelhada. Vi depois, ela segurar com muita dificuldade
em suas mãos, um quadro que continha a fotografia e a benção do Papa Pio XII.
Após beijá-lo, deixou cair no chão espatifando-se o vidro.
O meu pai muito aflito pediu para
a minha irmã ir correndo chamar o único médico da localidade, o Dr. Osvaldo
Bezerra Cascudo, que morava em uma rua próxima a nossa casa. Enquanto aguardava
a sua chegada, ele preparou uma ventosa, para aplicá-la na região torácica
posterior.
Para preparar a ventosa, tomou em
suas mãos um copo, deixou queimar um chumaço de algodão no seu interior, e, depois
de apagada a chama, aplicou-o no dorso do tórax.
Assistia tudo sem ter nenhuma
noção que aquele momento era o instante final junto a minha querida mãe. para mim o primeiro contato
com uma pessoa que precisava urgentemente de um socorro médico. Soube anos após
o seu falecimento que mamãe era portadora de insuficiência cardíaca grave, e,
que a sua causa mortes foi um edema agudo de pulmão. Esta imagem foi marcante em minha vida, e, sem dúvida, o passo inicial de
minha carreira médica.
Procuro quando atendo os meus
doentes, vê-los como um ser humano que
necessita além do apoio profissional, do afeto e, sobretudo o respeito.
Trato-os como se fora alguém de minha estimação.